Pena de Ouro

Florbela Espanca José Saramago Carlos Drummond de Andrade Guimarães Rosa Lya Luft Mário Quintana Machado de Assis Clarice Lispector Fernando Pessoa Camões Paulo Coelho Exupéry Luiz Fernando Veríssimo Cecília Meireles Vinícius de Moraes Cora Coralina Rubem Alves Fernando Sabino Clevane Pessoa Shakespeare Erico Véríssimo Martha Medeiros Gil Vicente Alphonsus de Guimarães Castro Alves Leonardo Boff Henriqueta Lisboa Patativa do Assaré Eça de Queiroz João Cabral de Melo Neto Adélia Prado









quarta-feira, 21 de julho de 2010

FERNANDO PESSOA


Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Constantemente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

Nenhum comentário:

Postar um comentário